Antes que vocês achem o bichinho mais chato ainda, uma dica pra entrar no meu astral: sabe quando você se sente mal, na rua, quando vê uma criança na mendicância, quando pensa no futuro que ela poderia ter, mas não tem (se é que você pensa nisso)? E daí, você chega em casa, toma seu banho gostoso, come sua comida, vê sua TV e dorme na sua cama quente.... E rapidamente esquece da cena de outrora. O conforto da nossa vida nos cega diante do desconforto do próximo. E, mais do que isso: a impotência ganha espaço, ainda que tenhamos um pouco (o mínimo que seja) de consciência social. São sentimentos mistos, e ambíguos.
E depois, pode ser que esse sentimento volte, renovado, quando brota a lembrança dos olhos famintos e minguados na nossa memória curta. Esse soneto fala deste sentimento. E de como o futuro do mundo morre tão facilmente dentro de nossas consciências. E de como pensar nisso e julgar a falta de consciência do próximo é muito fácil também. Na dinâmica da consciência social, nada é matemático... E qualquer julgamento, seja ele a respeito de quem olvida o próximo, ou diante de quem não olvida, mas pouco faz, é idiota. Porque a grande verdade é que lidar com tudo isso é muito complexo...
MISÉRIA EM SONETO
A infância das ruas grita o meu nome
Depois de engolido o instinto de dor;
Dorme acordada tal qual o pastor,
Finge que é nula a presença da fome....
Invade meu rosto um pranto que some
Ante, do lar, o conforto e o calor;
Mas logo toca-me o mesmo langor
Da meninice que a morte consome....
Vejo a Esperança que jaz no chão duro
Tingir de negro o verde desta Terra;
Nasce nas faces o rubro-vergonha...
E então a infância que o meu nome berra
Perde seu sonho que não mais se sonha
– Jaz, para todos, do mundo, o Futuro!
Agora, enquanto eu tomo um café quente no meu sofá confortável, e a chuva cai lá fora torrencialmente... deixo um vídeo pra vocês pensarem um pouquinho a respeito... (apesar de toda a ironia que ele carrega - "afinal, quem sou eu pra me sentir triste - se tenho mansão, carrão, sou artista...?"). Pano pra manga para outro post, mas muito válido para o momento. De qualquer forma, deixo ele aqui porque, assim como meu soneto, ele também traz esse sentimento misto e ambíguo de que falei...