… E eis que recebemos essa bucha, essa pergunta filha-de-uma-santa, que me fez viajar nas entranhas do meu mundinho afetado. Complexa, avassaladora, entaladora de gargantas. A Mestra da matéria “Desafios da Escola Brasileira” (sim, eu tenho essa matéria no curso de História da Pontifícia), lança assim, sem piedade, à queima-roupas: “O que é ser professor?”
Como responder a este milenar enigma antes que a Esfinge me devorasse?
Ser professor... é ter dentro de si um Universo que abriga muitos dos ofícios mais nobres do orbe. Sabe porque?
Ser professor é ser também um Arquiteto. Arquiteto do saber. Aquele que ergue as colunas do conhecimento e sabe onde exatamente colocar a argamassa correta, e o ponto que ela deve tomar... Para edificar dentro da gente um templo sólido e indissolúvel. Aquele inexorável ao tempo, que não se perde com o a força dos anos, não se deteriora, não se esvai.
Ser professor... é ser também um Mágico. Aquele que tira da cartola memórias inimagináveis e citações imprevisíveis. Por fazer desaparecer, com palavras mágicas, nossas inseguranças diante da vida. Ou simplesmente por ter o dom de adivinhar as cartas que seus discípulos pretendem ter nas mangas, na hora da cola...
Ser professor... é ser também um Botânico. Versado na arte de plantar, fecundar, cultivar, distribuir e multiplicar as ramas do conhecimento. Especialista em dissecar as folhas do passado, extrair o néctar do presente, e prever a colheita do futuro.
Ser professor... É ser também um Músico. Um maestro. Que, a frente de sua orquestra discente, dá o tom da pesquisa, não deixa o ritmo do estudo se perder, dá as notas corretas no pentagrama letivo. E aplaude de pé, junto com a plateia, quando a Orquestra Formanda alcança seu objetivo e consegue executar com maestria a canção graduada.
Ser professor... é ser também um Ator. E dos bons. Que prepara o corpo, a voz e coração, para recitar à plateia que o espera o texto que lhe compete explicar. Que cuidadosamente escolhe os melhores olhares e gestos para que o objetivo de seu personagem seja compreendido. Que dá autógrafos no final da apresentação seminária-teatral...
Ser professor... é ser também um Poeta. Um especialista da métrica da disciplina. Do Lirismo acadêmico. Da arte de conduzir, com genialidade e zelo, as rimas e versos do futuro de seus pupilos.
E, sendo poeta, o professor é também um Fingidor, como já desconfiava Fernando Pessoa. Sim, um fingidor. E finge tão completamente, que chega a fingir que é Labor, o Amor que deveras sente. Porque o professor ama o que faz, e o que faz, faz com amor. E então o trabalho, a obrigação do Lavoro por assim dizer, se esmorece e se desfaz, transformando-se num prazer diário e impagável.
E, sobretudo... Apesar de conter em si toda essa gama de mundos... O Professor é antes de tudo um grande ALUNO. Que sabe reconhecer, humilde e sabiamente sob a égide dos princípios socráticos, que quanto mais conhecimentos adquirimos... mais conhecimentos precisamos. E mais percebemos quão pouco sabemos...
O professor é o elemento-chave, o motor, o metal condutor que impulsiona, conduz, e dá as diretrizes do conhecimento a todos aqueles que se propõem a aceitá-lo. E sua importância é inegavelmente imensurável. É um sacerdócio. Um pastoreio. Ser professor... é cartesianamente....... SER!
…. E a professora, me olhando com aquela cara de “W.T.F. are you talking about, kid???”, colocou as mãos nos meus ombros e me disse pacientemente: “filha, num complica. Escreve aí em cinco linhas algo 'simplinho' e me entrega”.
(... MILHARES DE PONTINHOS DE RETICÊNCIA PRA TRADUZIR MEU SENTIMENTO...)